Mestre Fátima dos Anjos, da Escola Municipal Armando Fajardo, localizada no bairro Cordovil, Zona Note da Cidade do Rio de Janeiro, escreveu gentilmente para o Blog, a fim de contar com ricos detalhes quais foram os facilitadores e dificultadores na implementação do Projeto Cientistas do Amanhã em sua Escola, que integra a 4ª Coordenadoria Regional de Educação.
"Sou Professora Fátima e as turmas da escola onde leciono, junto com a Professora Bianca, não são diferentes da maioria das outras escolas. Localizada em uma comunidade carente, as crianças apresentam características e necessidades individualizadas.
Acompanhamos estas turmas desde o ano passado e formamos uma dupla que deu certo. Costumamos dizer que ela é organizada e eu, a criatividade.
Devemos confessar que resistimos à ideia de implementar o Projeto Cientistas do Amanhã, principalmente após a Tele-Conferência. Tudo parecia tão distante da realidade da comunidade onde trabalhamos.
A Profª Bianca também leciona para uma turma de Período Final do Ciclo, cujo Tema é solo. Ficamos em salas diferentes e, no intervalo, ela já havia calculado quantos dias seriam necessários para contemplar nossos alunos com todas as aulas. Mesmo resistindo, teríamos que seguir em frente. Recuar não é a solução!
Às vésperas de nosso recesso de julho, fomos realizar a segunda parte do curso na Faculdade Estácio de Sá. Na verdade, estávamos cansadas e loucas por uma semana de calma. Finalmente, teríamos acesso ao "Bicho Papão Azul" (o armário). Outra vez ficamos separadas e eu fui a única de minha Escola que foi para o Tema Ar. Na sala, conheci o Márcio, o qual, mesmo diante da resistência de um grupo de professores, conseguiu me contagiar com a ideia de "uma nova ciência". Pensei no rostinho das crianças ao perceberem que não teriam mais os tradicionais livros de Ciências, mas que, literalmente, seriam cientistas por algumas horas. Também me sentia insegura. Como usar todo aquele material com crianças que são educadas de forma tão diferente uma das outras com relação à convivência em grupo?
Ainda na sala, comecei a pensar em como poderíamos organizar o planejamento de forma fácil, prática e objetiva.
Fiquei decepcionada ao saber que não havia um Diário do Aluno padronizado e que poderíamos utilizar folhas, cadernos separados ou o próprio caderno do aluno. Decidi, naquele momento, que pensaria em uma forma prazerosa para meus alunos realizarem os registros. Logicamente, não poderia faltar minha outra parte: a Profª Bianca. Com sua organização, poderíamos colocar em prática minhas ideias. Estávamos às vésperas do recesso de julho e tínhamos pouco tempo. A Profª Bianca também havia ficado empolgada, mas lamentava o mesmo que eu: a chegada do Projeto só no 2º semestre.
Após mostrar à Bianca mina ideia de utilizar o próprio caderno que recebemos no curso - para realizar o planejamento -, estruturando-o de uma forma diferente da apresentada pela Sangari, começamos a pensar em como confeccionar o Diário do Aluno e resolvemos personalizar as folhas, com desenhos relacionados à natureza, margens trabalhadas e dividido em duas partes: uma para os registros escritos e a a outra para atividades leves, como: desenhos, pinturas, recorte e colagem, ilustrações científicas etc.
Entrando no recesso com tudo esquematizado. Fomos mantendo alguns contatos durante este período. Para cada aula planejada, Bianca preparava as folhas necessárias para o registro e atividade relativa ao Tema. Em cinco dias, já tínhamos até a 7ª Aula pronta. Bianca sugeriu a Aula Zero, onde planejei um momento para o aluno saciar sua curiosidade, explorando o armário e o livro, registrado no Diário suas ideias com relação à nova forma de estudar Ciências e que objetos mais chamaram sua atenção. Em cima da ideia da Bianca, resolvi planejar mais uma aula ao final, onde crianças poderiam comparar suas expectativas iniciais com o que aconteceu e sugerir de que forma poderíamos melhorar as aulas. Minha ideia era enviar as sugestões dos alunos para Sangari.
Ao retornarmos do recesso, apresentamos o que organizamos à Direção, Coordenação e demais professores, que decidira adotar o modelo de planejamento e de Diário do Aluno. Lamentavelmente, o início da aulas foi adiado, os armários também chegaram depois, o conteúdo necessitava ser reposto, centros de estudos com datas alteradas e ficamos um pouco desanimadas. No dia 12/11, demos nossas primeiras aulas, unindo alguns capítulos. Terminei o dia exausta e confesso que não consegui realizar as três aulas propostas para aquele dia, mas a alegria no rosto de meus alunos foi algo que me fascinou: sentados em grupo, me surpreenderam com questionamentos, colocações, interesse por objetos como a "Pisseta", o capricho ao realizar as atividades e o número muito menor de confusões que precisei resolver. Diante da reação deles, não me importei em não ter conseguido dar todas as três aulas, pois responder a seus questionamentos valia muito mais. Dei continuidade, no dia seguinte, e minhas duas turmas estavam lotadas. Ao final, ouvi um grupo conversando: 'Não podemos faltar na quinta-feira mais, porque o Prefeito mandou o material certo e quem faltar a Tia não vai poder fazer outro dia. Foi muito bom e eu não quero perder nada'. Completado por outro aluno: 'Eu me senti um cientista de verdade'.
Não sei como você, Professor, está reagindo a este Projeto, mas garanto que na primeira aula eu confirmei o que o Márcio disse: 'Em Ciências não há uma resposta pré-estabelecida, não há erros e sim respostas diferentes a uma mesma experiência'.
Na vida não há receitas para acertarmos, nem como pessoa, pais, filhos e profissionais, mas há a vontade de tentar. Esse é o primeiro passo para quem está assustado com o novo: Cientistas do Amanhã. TENTE!!!!"
Acompanhamos estas turmas desde o ano passado e formamos uma dupla que deu certo. Costumamos dizer que ela é organizada e eu, a criatividade.
Devemos confessar que resistimos à ideia de implementar o Projeto Cientistas do Amanhã, principalmente após a Tele-Conferência. Tudo parecia tão distante da realidade da comunidade onde trabalhamos.
A Profª Bianca também leciona para uma turma de Período Final do Ciclo, cujo Tema é solo. Ficamos em salas diferentes e, no intervalo, ela já havia calculado quantos dias seriam necessários para contemplar nossos alunos com todas as aulas. Mesmo resistindo, teríamos que seguir em frente. Recuar não é a solução!
Às vésperas de nosso recesso de julho, fomos realizar a segunda parte do curso na Faculdade Estácio de Sá. Na verdade, estávamos cansadas e loucas por uma semana de calma. Finalmente, teríamos acesso ao "Bicho Papão Azul" (o armário). Outra vez ficamos separadas e eu fui a única de minha Escola que foi para o Tema Ar. Na sala, conheci o Márcio, o qual, mesmo diante da resistência de um grupo de professores, conseguiu me contagiar com a ideia de "uma nova ciência". Pensei no rostinho das crianças ao perceberem que não teriam mais os tradicionais livros de Ciências, mas que, literalmente, seriam cientistas por algumas horas. Também me sentia insegura. Como usar todo aquele material com crianças que são educadas de forma tão diferente uma das outras com relação à convivência em grupo?
Ainda na sala, comecei a pensar em como poderíamos organizar o planejamento de forma fácil, prática e objetiva.
Fiquei decepcionada ao saber que não havia um Diário do Aluno padronizado e que poderíamos utilizar folhas, cadernos separados ou o próprio caderno do aluno. Decidi, naquele momento, que pensaria em uma forma prazerosa para meus alunos realizarem os registros. Logicamente, não poderia faltar minha outra parte: a Profª Bianca. Com sua organização, poderíamos colocar em prática minhas ideias. Estávamos às vésperas do recesso de julho e tínhamos pouco tempo. A Profª Bianca também havia ficado empolgada, mas lamentava o mesmo que eu: a chegada do Projeto só no 2º semestre.
Após mostrar à Bianca mina ideia de utilizar o próprio caderno que recebemos no curso - para realizar o planejamento -, estruturando-o de uma forma diferente da apresentada pela Sangari, começamos a pensar em como confeccionar o Diário do Aluno e resolvemos personalizar as folhas, com desenhos relacionados à natureza, margens trabalhadas e dividido em duas partes: uma para os registros escritos e a a outra para atividades leves, como: desenhos, pinturas, recorte e colagem, ilustrações científicas etc.
Entrando no recesso com tudo esquematizado. Fomos mantendo alguns contatos durante este período. Para cada aula planejada, Bianca preparava as folhas necessárias para o registro e atividade relativa ao Tema. Em cinco dias, já tínhamos até a 7ª Aula pronta. Bianca sugeriu a Aula Zero, onde planejei um momento para o aluno saciar sua curiosidade, explorando o armário e o livro, registrado no Diário suas ideias com relação à nova forma de estudar Ciências e que objetos mais chamaram sua atenção. Em cima da ideia da Bianca, resolvi planejar mais uma aula ao final, onde crianças poderiam comparar suas expectativas iniciais com o que aconteceu e sugerir de que forma poderíamos melhorar as aulas. Minha ideia era enviar as sugestões dos alunos para Sangari.
Ao retornarmos do recesso, apresentamos o que organizamos à Direção, Coordenação e demais professores, que decidira adotar o modelo de planejamento e de Diário do Aluno. Lamentavelmente, o início da aulas foi adiado, os armários também chegaram depois, o conteúdo necessitava ser reposto, centros de estudos com datas alteradas e ficamos um pouco desanimadas. No dia 12/11, demos nossas primeiras aulas, unindo alguns capítulos. Terminei o dia exausta e confesso que não consegui realizar as três aulas propostas para aquele dia, mas a alegria no rosto de meus alunos foi algo que me fascinou: sentados em grupo, me surpreenderam com questionamentos, colocações, interesse por objetos como a "Pisseta", o capricho ao realizar as atividades e o número muito menor de confusões que precisei resolver. Diante da reação deles, não me importei em não ter conseguido dar todas as três aulas, pois responder a seus questionamentos valia muito mais. Dei continuidade, no dia seguinte, e minhas duas turmas estavam lotadas. Ao final, ouvi um grupo conversando: 'Não podemos faltar na quinta-feira mais, porque o Prefeito mandou o material certo e quem faltar a Tia não vai poder fazer outro dia. Foi muito bom e eu não quero perder nada'. Completado por outro aluno: 'Eu me senti um cientista de verdade'.
Não sei como você, Professor, está reagindo a este Projeto, mas garanto que na primeira aula eu confirmei o que o Márcio disse: 'Em Ciências não há uma resposta pré-estabelecida, não há erros e sim respostas diferentes a uma mesma experiência'.
Na vida não há receitas para acertarmos, nem como pessoa, pais, filhos e profissionais, mas há a vontade de tentar. Esse é o primeiro passo para quem está assustado com o novo: Cientistas do Amanhã. TENTE!!!!"
Dosado na crítica e filiado ao otimismo, o relato das experiências compartilhadas pela regente Fátima Anjos (em parceria com a professora Bianca) sinaliza para gestores e educadores possibilidades para ajudar a transformar em realidade o uso do "armário azul" em mais salas de aula das Escolas Municipais do Rio de Janeiro.
Parabéns, Dupla Perfeita, pela mobilização e pelas inovações.
Um comentário:
Nossa é incrível!!!Comigo foi assim,resistencia ao novo e encantamento!!A cada aula que trabalhamos ficamos mais empolgados!!Que bom saber que o mesmo aconteceu com outros professores!!!
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